quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Partes

Parte I : O Caminho

E a menina caminha
à procura de um milagre.
Não pensa, não ouve,
apenas procura.
Mal vê ou percebe,
não chora, não ri.
Ela bate à porta
que abre e fecha
ou fecha e não abre
e esconde, abriga
uma gente minguada,
calada e abatida.
E a menina caminha
à procura de um milagre
que vai rio acima
à foz de sua sina
que rege e domina
uma vida minguante,
ou nova e crescente
qu'inda não encheu.
Segue estrada de ferro
ou de terra,
pés descalços nos trilhos
ou nos pedregulhos
que a guiam para cima
retilineamente
à foz de sua sina.

Parte II : As Estações

Vem a brisa da relva
trazendo presente
o molhado orvalho
e uma vida latente
à espera na selva
do outono cadente
com som de chocalho.
O perfume da noite
envolve e protege
essa ninfa sem asas,
que tem como amigos
anjos e fadas
que plantam sementes
entre seus cabelos,
de rosas e cravos...
e o passo não cessa.
Vem com a prece:
o vento,
e depressa,
a amiga:
a lua;
sempre mãe, sempre nua,
é a boca da noite
mais pura, mais crua
de um deserto ambulante.
Está frio, está quente...
... e o passo não cessa.

Parte III : O Milagre

O milagre aconteceu
quando ela chegou à montanha.
Não sorriu, não chorou.
Foi guiada para cima
ouvindo o murmúrio
dos anjos e fadas,
tão amigos...
Ela bate à porta
que fechada responde
e se abre em silêncio.
Os olhos disseram
a história de séculos.
Na casa tão simples,
tão clara,
puderam ver-se.
Sem medo, sem rodeios.
Os olhos sempre dizem
a história de séculos.
Ela entrou e chorou.
Ele apenas sorriu.
Os olhos abraçaram-se,
perdoaram-se.
Conquistada a liberdade,
a cada toque, um passo.
O um só foi o milagre.
Aconteceu quando subiram a montanha,
naquela casa tão clara e tão simples...

por Rosa Antuña em 9/10/94

Nenhum comentário:

Postar um comentário